sexta-feira, 17 de junho de 2016

2011: o incrível 4 x 100 medley do Álvares Cabral (por Gabriela Rocha e Luisa Zanellato)

Hoje, mais uma vez, o FamilAquatica abre seu baú para contar mais uma incrível história da natação, desta vez vinda do Troféu Arthur Sampaio Carepa, o extinto Brasileiro Juvenil de Inverno, de 2011, que aconteceu em Fortaleza, no Ceará. Vamos focar no Clube Alvares Cabral, de Vitória. Na época, o técnico do time, Alexandre Antunes formou um timaço com meninas especiais que apareceram para o mundo e logo fizeram história na natação brasileira. E, além de conseguir uma representante nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, ainda conseguiram um feito histórico.
Neste torneio, inclusive, participaram quatro nomes que vão estar nos JOGOS OLÍMPICOS RIO 2016, quais sejam, Matheus Santana (então no Botafogo, hoje na Unisanta), Gabriel Silva Santos (Pinheiros), Luiz Altamir Mello (então no Hedla Lopes, hoje no Flamengo) e Natalia de Luccas (então no Gran São João, hoje no Corinthians), alguns que fazem história nas piscinas, como Vitor Guaraldo (Pinheiros), Joana Zenebon (então no Gran São João, hoje na Unisanta), Felipe Monni (Pinheiros), Bianca Avella (então no Paineiras, hoje no Minas), Carolina Bilich (Minas), Pedro Cardona (Pinheiros), Viviane Jungblut (GNU), Nathalia Almeida (então no Tijuca, hoje no Flamengo) e Aline Rodrigues (então no Botafogo, hoje no Pinheiros), e outros que fizeram história mas que já penduraram o traje, como Mariana Serrano (SESI), Flávia Ribeiro (Unisanta), Suzan Karen (Corinthians), Júlia Fiks Salém (Pinheiros - atualmente morando em Michigan), Paula Togeiro Galvão (Pinheiros), Mayara Nascimento (Pinheiros), Mariana e Mariara Loureiro (então no Flamengo, hoje morando nos EUA) e Matheus Roncatto (Pinheiros - hoje policial). E é desta última categoria que vem quem vai contar melhor a história do que eu.
Gabriela Rocha e Luiza Zanellato fizeram parte deste timaço, junto com Rafaeli Coutinho e Juliana Santos. Depois do campeonato, com os resultados positivos (inclusive a vitória nos 400 livre, por exemplo, de Gabi, que esteve em Guadalajara), chamaram a atenção de clubes de todo o Brasil. Luisa foi para o SESI, quando, sucumbida por lesões, resolveu trocar de esporte e hoje é jogadora de polo aquático, enquanto Gabi, que fez mais história ainda no Timão, optou por apenas nadar por prazer e voltou a morar em Vitória.
A convite do nosso site, elas contaram o que sentiram e o que aconteceu no dia em que as quatro meninas de Vitória surpreenderam o país com uma inacreditável vitória no 4 x 100 medley feminino, com 4:28.92, vencendo até o Pinheiros, favorito naquele evento. A palavra agora é, respectivamente, de Gabi e Luisa:

2011 já começou com o pé direito pra mim. Iniciando meu segundo ano treinando no Clube Alvares Cabral, eu estava extremamente motivada. Aliás, eu e Alexandre (técnico) e Helvio (prep. físico) estávamos numa sintonia fora no normal. Cada dia de treino era melhor que o outro. A nossa equipe estava muito focada, e isso já era um sinal. O resultado desse trabalho já veio no Troféu Maria Lenk quando conquistei minha vaga pro Pan-Americano, com isso, o Campeonato Brasileiro de Inverno que veio logo em seguida não poderia ser diferente. Começamos o Brasileiro com uma emoção diferente, na época a nossa equipe era composta na maioria por meninas, com isso nós parecíamos irmãs! Todas nós éramos unidas e naquela competição não foi diferente. Já dava para perceber que seria inesquecível para todas nós. A competição rolando e cada uma melhorando suas marcas, conquistando medalhas, cada etapa mais motivadas. Medalhamos em todos os revezamentos, e aquilo já foi chamando a atenção. Conseguimos ficar pilhadas durante toda a competição. Na última etapa ano foi diferente. Mal sabíamos que na ultima etapa, na última prova viria nossa consagração. Alexandre (como sempre muito pilhado) chegou para uma pequena reunião dizer que tinham chances de pódio naquele revezamento. Nosso revezamento foi composto pela Juliana de costas, a Rafaeli de peito, a Luísa de borboleta e eu de crawl. Naquela etapa a Ju, Rafa e eu nadaríamos nossas provas individuais. Como última prova individual da competição, eu nadei os 400 livres, dei a raça na prova sem pensar que logo depois nadaria o revezamento, eu preferia pensar em uma prova de cada vez. Ganhei a prova, estava numa temporada muito boa, sabia que eu poderia fazer força que eu aguentaria nadar o revezamento depois. Saí da prova acabada! Não aguentava andar de tanta cólica. Na época eu sofria muito com isso. Mas revezamento é composto por quatro, eu nao deixaria minhas amigas na mão. Me recuperei a tempo de entrar pra prova, estávamos na série mais fraca. Ninguém imaginava que dali sairia a equipe campeã. Após a série mais forte nadar ouvíamos o Alexandre dizer "vai dar, vai dar". Fomos com a cara e a coragem, não tínhamos nada a perder. Prova liberada, Ju abre o nosso revezamento pro melhor tempo da vida, Rafa pula e faz seu melhor tempo, Lu pula, melhor tempo. Como eu era a ultima, ficava olhando o Alexandre andando a piscina inteira do nosso lado gritando e com os braços abertos (gesto típico dele). Eu não poderia decepcionar minha equipe, eu dei meu 200% naquela prova, eu teria que repetir o tempo que fiz na minha prova individual para garantirmos o ouro. 57.95 era o tempo, bati no placar e só conseguia ouvir os gritos do Alexandre e das meninas. Campeãs! Éramos nós por nós. A nossa equipe era a melhor equipe de revezamento 4x100 medley. Nossa comemoração entre poucas pessoas parecia uma torcida inteira num estádio de futebol. Estávamos radiantes, ninguém acreditou, só nós! Foi inesquecível, esse dia está guardado pra sempre nos nossos corações. Pra algumas equipes é comum ser campeãs, rotina, mas aquele ouro foi só a cereja do nosso bolo, foi a consagração dos nossos treinos, das nossas lutas diárias, do "vamo gente", do nosso técnico acreditar em cada uma de nós, de nós acreditarmos umas nas outras. Esse foi o resumo do dia que levamos à nossa família, amigos, e técnico uma emoção diferente. Ver a minha mãe consegui filmar aquela prova foi algo divino, tinha que ser registrado aquele momento, porque ela nunca conseguia filmar direito uma prova minha. E aquela ela conseguiu, tava escrito. Era pra ser! (Gabriela Rocha)

Eu me emociono só de escrever... Em 2010 eu já vinha de uma relação de amor e ódio com a natação, precisando de um up. Não pensei duas vezes em entrar em contato com o Alexandre Antunes para treinar com ele, que sem dúvida era o melhor técnico do Estado e estava treinando a Gabi Rocha e a Carol Bilich, que acabou indo pro Minas no ano seguinte. O “time feminino do Alejandro” de 2011, como brincávamos, praticamente formado por meninas, era muito unido, tínhamos grandes ambições e o Brasileiro de Inverno em Fortaleza, seria nosso primeiro desafio. Lembro que eu treinei muito para estar lá, todas as meninas também, treinamos como nunca tínhamos treinado antes, uma puxava a outra nos treinos, era um grupo muito unido e muito bom. Para mim, aquele brasileiro teve um gostinho diferente logo de início, era a terceira competição importante seguida que eu tinha naquele mesmo clube, sendo o Jebs de 2010: catástrofe e Brasileiro de Verão de 2010: Uma catástrofe maior. O raio não podia cair três vezes naquele lugar, não naquele ano. A competição iniciou com as provas individuais e estava sendo uma competição muito boa! Logo nas primeiras etapas já fomos vice-campeãs no 4x50 livre, atrás apenas do ECP e terceiro no 4x100 livre. Capixabas no pódio dos revezamentos de livre, deixando clubes grandes para trás? E muitos revezamentos que tinham 4 meninas rápidas de crawl? Era bom demais pra ser verdade! Revezamento sempre foi a prova que todo nadador gosta, é o momento de unir forças com aquele companheiro de clube, num esporte individual de muita pressão. Lembro que quando entrei naquela equipe, naquele ano, eu olhava para o lado e via que tinham 4 meninas que poderiam formar um rev de livre e 4 meninas que poderiam formar um rev de medley, já que tínhamos uma de cada estilo principal na equipe. Nós não chegamos naquele Brasileiro sabendo que poderíamos estar no pódio de todos os revezamentos, mas durante a competição nós fomos ganhando força entre nós e respeito das outras equipes. No sábado à noite, lembro que o Alexandre fez várias contas de acordo com os nossos tempos das provas individuais e como as outras equipes poderiam formar o revezamento de medley, com os tempos de cada atleta. No domingo de manhã, no café , estávamos sentadas na mesa e logo veio ele, com toda aquela ambição: “Se cada uma fizer o seu melhor tempo, dá pra ficar no pódio” , e foi com esse pensamento que nós saímos do hotel em direção à competição. Naquele domingo, eu era a única que não competia, todas as minhas provas individuais já tinham acontecido, a ju tinha final dos 100c, rafa dos 100p e a gabi dos 400 livre, prova que antecedia o rev de medley. Não era pra menos, provas emocionantes e tinha chego a hora do rev. Fui para o balizamento e as meninas vieram logo em seguida, quando olho para o lado, Gabi passando mal. Lembro que ela tinha feito tanta força na prova dos 400 livre, que foi campeã, que não estava se sentindo bem para aquele revezamento. As chances de estarmos entre as três fugiu um pouco naquele momento dentro de mim: os tempos estavam contados, tínhamos 3 nadadoras que já tinham nadado naquela manhã, sendo que a Gabi, a que fecharia nosso rev, tinha acabado de nadar um 400 livre e estava passando mal! As equipes começaram a ser chamadas para a primeira série, mas...nada de nos chamarem. Foi quando lembramos que não tínhamos um bom tempo balizado, teríamos que nadar na série mais fraca, apenas com o Paineiras. Mais tempo para descanso, porém nenhuma equipe para nos puxar. Quando os revezamentos estavam nadando, nós acompanhamos do balizamento as parciais de cada estilo, sendo que todas estavam muito próximos dos nossos melhores tempos. Quando a serie acabou e estávamos entrando na área da piscina, o Alexandre veio correndo e gritou “Dá pra ganhar, vai dar!”. Toda a arquibancada já estava contando com os resultados daquela serie, a equipe do Pinheiros era considerada campeã da prova. Foi dada a largada, a competição ficou em silêncio olhando a serie mais fraca, e o único barulho era do Alexandre gritando e incentivando nossa busca ao ouro. Ninguém, a não ser nossa família, nosso técnico e nós 4, imaginava na possibilidade de um Clube pequeno do Espírito Santo ganhar, talvez de entrar no pódio, já que tínhamos pego medalha em todos os outros revezamentos. A ju abriu de costas, na batida o melhor tempo de sua vida, melhor que o tempo que havia feito momentos antes, na prova individual. Em seguida a rafa, com um tempo que se tivesse feito na prova individual, o ouro era dela. Eu pulei com a certeza que precisava abrir muito forte, e não foi pra menos, meu melhor tempo da vida. Para ganharmos a prova, a Gabi teria que fechar para o tempo que fez em sua prova de 100 livre e Alexandre ao gritos de “Deu ! Deu !” . A cada parcial, quem estava de fora olhava para o placar para ver o tempo , cada vez mais o Alexandre nos motivava de fora, correndo a piscina inteira, o tempo todo, aos gritos de “Boa! Vamo!”, nos acompanhando. Quando a Gabi bateu, o placar confirmou: 4:28.92 era melhor que o 4:30.17 do Pinheiros, era nosso! Nos vibramos, nos abraçamos e corremos em direção à nossa pequena torcida, que fez mais barulho do que imaginavam. No pódio foi um momento único, fechamos a competição com chave de ouro! (Luisa Zanellato)

No Brasileiro Juvenil de Verão, o Troféu Carlos Campos Sobrinho, em Vitória, o Pinheiros deu o troco, mas com tempo um pouco pior: 4:30.83 contra 4:32.13 do time capixaba.
Pensam que parou por aí? Convosco, o vídeo da histórica prova do Alvares Cabral em 2011, numa cessão da própria Zanellato, em seu canal do YouTube:



(agradecimentos especiais à Gabriela Rocha e à Luisa Zanellato, que também cedeu as fotos e o vídeo)

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