E continua a nossa série especial em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Hoje, Patrícia Angélica conta sobre um terreno ao qual as nossas nadadoras dominam: as maratonas aquáticas, às quais, inclusive, temos as atuais campeãs mundiais. Vamos relembrar essa história?
Enquanto
nas piscinas existe uma dificuldade enorme de se fazer resultados em nível
mundial, nas águas abertas a história é diferente. A paulistana Poliana Okimoto
do Minas Tênis Clube (N. E.: ela atualmente é da Unisanta) e a soteropolitana Ana Marcela Cunha do SESI-SP já foram
campeãs do Circuito Mundial de Maratonas Aquáticas O circuito Mundial ocorre em
diversas cidades ao longo do ano. Os campeões são definidos por uma pontuação através
de medalhas e outros critérios). Mas a que se deve o surgimento desses dois
talentos?
O comentarista de natação do SporTV Alexandre
Pussieldi elogia o trabalho feito pelas duas estrelas da modalidade, mas também
vê nelas, assim como em toda a natação brasileira, algo isolado. "O Brasil
saiu na frente com relação à natação em águas abertas, mas não foi feito nenhum
trabalho de renovação depois da Poliana e da Ana Marcela. Então, depois que
essas duas meninas saírem, vamos ficar sem ninguém".
Poliana Okimoto, de 30 anos, foi a
primeira nadadora brasileira a ganhar uma medalha em Campeonato Mundial e que
abriu as portas da maratona aquática no Brasil. Seu bronze nos 5km do Mundial
de Roma em 2009 foi histórica. Hoje, ela conta com patrocínios e apoio dos
Correios e do Time Brasil (do COB), por exemplo, para dar continuidade aos
treinos e às competições, mas conta, em entrevista no Troféu Maria Lenk, que o
início foi complicado: "por muitos anos, o Ricardo [Cintra] foi meu
técnico, psicólogo, massagista, fisioterapeuta, tudo. O começo foi muito
difícil".
O técnico e marido de Poliana,
Ricardo Cintra, explica, em conversa durante o Troféu Maria Lenk, em abril de
2013, que não há grandes segredos no treino cotidiano de maratona aquática, mas
que as competições são o melhor treino para a modalidade. Para ele, a maior
dificuldade está em conciliar as provas em águas abertas que ajudam a atleta na
própria preparação e aquelas em piscina, que valem pontos para o clube, nos
campeonatos. "Nosso foco é a maratona aquática, mas ela continua nadando
piscina porque é importante para o clube que ela representa. Nesses últimos
anos, os resultados dela em piscina foram muito aquém do que ela poderia fazer,
mas eu tenho que rebolar aí pra conciliar os dois".
Os dois explicam que quase não há
treinos feitos no mar. "Quando morávamos [Cintra e Poliana] em Santos, uma
vez por semana, nadávamos no mar. Agora que estamos em São Paulo ficou um pouco
mais difícil, mas tem bastantes competições e
usamo-nas [para efeito de treino]".
Isso poderia mudar, se a CBDA
incluísse nas grandes competições - como Troféu Maria Lenk, Troféu José Finkel,
Open e outras - uma etapa de provas em águas abertas para atrair os clubes. Uma
proposta nesse sentido foi incluída na Assembleia Geral da Confederação em março
de 2013, mas foi recusada. "A natação depende dos clubes. E a maratona aquática
é totalmente fora de clube. Os atletas sobrevivem de incentivos, de patrocínio.
Quando conseguem, são pouquíssimos clubes que investem neste tipo de competição.
Colocar a maratona aquática junto com o Maria Lenk, por exemplo, valendo ponto
para os clubes e junto ao calendário da natação vai ser um grande incentivo,
vai também trazer atletas da piscina pra a maratona. Os clubes que tiverem
atletas de fundo e de maratona vão querer ter mais e os que não têm vão começar
a pensar em ter", defende Poliana Okimoto (N.E.: houve uma tentativa no Troféu Maria Lenk, em São Paulo, em 2014, mas, apesar do bom número de nadadores, a ideia não foi à frente).
A outra grande estrela da maratona
aquática, Ana Marcela Cunha, campeã mundial da prova de 25km no Mundial de
Xangai em 2011, fala, em bate papo no mesmo evento, que sempre nadou no mar e
que isso é comum na Bahia, estado em que nasceu. E, como nadadora de águas
abertas, acaba usando competições como parte dos treinos e comemora cada
oportunidade de duelar com Poliana. "Faço o Circuito Paulista e o Circuito
Brasileiro para treinar para a Copa do Mundo e o Campeonato Mundial. É bom
quando a Poliana também compete porque dá para fazer treinos mais fortes".
Portanto, é perceptível que não
existe nenhum tipo de trabalho diferenciado nas maratonas aquáticas do Brasil.
Como as próprias atletas e seus treinadores deixam claro, se elas hoje estão em
posição de destaque no cenário mundial, é fruto de um trabalho individual. Se
hoje elas contam com patrocínios e apoios, é porque um dia acreditaram no
próprio talento e investiram nele.
Assim é no país: o esporte sobrevive
de escassos talentos individuais que surgem e se destacam pelo famoso paitrocínio (expressão usada pelos
atletas e seus familiares para indicar que quem "patrocina" o
desenvolvimento do nadador são os pais). E então as confederações e as empresas
resolvem "investir" nesses talentos, quando eles chegam ao auge.
No dia 20 de julho de 2013, na prova
de 5 km das águas abertas do Mundial de Barcelona, Poliana Okimoto e Ana
Marcela Cunha fizeram a primeira dobradinha da história da natação feminina em mundiais.
Poliana, com a medalha de prata, e Ana Marcela, com a de bronze, mostraram mais
uma vez que em maratona aquática as nadadoras brasileiras são referência
mundial. Na mesma competição, três dias depois, as duas repetiram a dobradinha.
Desta vez nos 10km e mudando as cores das medalhas: Poliana, que nos Jogos de
Londres abandonou a prova, venceu a disputa e ganhou a de ouro. Ana Marcela
ficou em segundo lugar, com a medalha de prata.
No dia 25 de julho de 2013, ainda
durante as provas de águas abertas do Mundial de Esportes Aquáticos de Barcelona,
Poliana conseguiu mais um feito inédito: ao lado do baiano Allan do Carmo, de
23 anos, e do gaúcho Samuel de Bona, de 22,
nadadora disputou pela primeira vez a prova dos 5km por equipe e
conseguiu a medalha de bronze, atrás apenas das equipes alemã e grega. Neste
Mundial de Barcelona foi a segunda vez que a prova fez parte do programa,
depois de ser incluída no Mundial de Xangai em 2011.
Atualmente, Ana Marcela é campeã mundial e a tendência é que ela continue no ótimo caminho, assim como Poliana, Gabriela Cordeiro Ferreira (GNU), Betina Lorscheitter (GNU), Catarina Ganzeli (Unisanta) e as novatas Vivane Jungblut (GNU), Mariana Serrano Souza (SESI) e Bruna Primati (SESI).
Amanhã, segue a série, com a possibilidade de mulheres treinadoras.
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