Em 2008, quando começou sua jornada, Giovanna Dorigon colocou na sua cabeça que não queria ser mais uma. Queria ser a melhor. E a hora era boa para isso. O Paraná, especialmente o Clube Curitibano, estava recomeçando a revelar jovens talentos. A responsável por recolocar o estado de José Finkel e Cristiano Michelena na rota dos novos talentos tinha sido Alessandra Marchioro (atualmente na Unisanta). E Giovanna tinha a missão de levar em frente a ressureição paranaense.
E não fez feio: começou a bater recordes atrás de recordes. Por exemplo, o dos 100 peito Juvenil do Troféu Chico Piscina ainda é dela: 1:12.02, de 2012, tempo que, por 26 centésimos, Gabrielle Roncatto (então no Pinheiros, hoje na Unisanta) não fez virar história ao tornar-se a maior campeã em uma prova de tal jornada, em 2014. E tanto esforço resultou, em 2013, numa convocação para o Mundial Júnior de Dubai, ao lado de Fernanda Delgado (hoje no SESI), Natália de Luccas (Corinthians) e Nathalia Almeida (Flamengo), entre outras.
Aí veio 2014 e uma experiência no Corinthians, onde brilhou nos Campeonatos Paulistas Júnior e Sênior e ajudou o time a sair de uma seca de 48 anos no Troféu Maria Lenk. Mas no fim daquele ano, a saudade e um curso de Engenharia Civil na Universidade Tecnológica Federal do Paraná a fizeram voltar para o Curitibano e nunca mais sair.
Mas parecia que aquela Giovanna que espantara o Brasil não tinha voltado. Sem repetir os mesmos resultados da primeira passagem e enfrentando muitas dificuldades, seu 2015 foi logo apagado da memória. Poderia ter sido o fim. Mas veio o Troféu José Finkel e, como se fosse uma Fênix, Giovanna ressurgiu. Cresceu e reapareceu. E isso porque faltou menos de meio segundo para o pódio nos 200 peito: ficou em quarto lugar, o segundo entre as brasileiras, só atrás de Julia Sebastian (ARG/Unisanta), Macarena Ceballos (ARG/Minas) e Juliana Marin (GNU). E mesmo assim ela achou pouco. De volta à grande fase, ela quer melhorar seus tempos, principalmente no Open de Palhoça.
Às vésperas de mais um Chico Piscina, Giovanna falou ao FamilAquatica sobre o momento que vive, sua carreira, sua rotina e também nos revelou que não quer sair do Curitibano agora, mas, formada, talvez pense em uma carreira nos EUA. Confira nossa entrevista com esse talento Paranaense que conquistou o Brasil.
1) Você chegou perto do pódio nos 200 peito no último Finkel, um grande resultado depois de tanto tempo. É o reinício da Dorigon que conhecemos no início da década?
Fazia tempo que não nadava uma competição feliz e descontraída como nadei nesse Finkel. Comecei esse ano muito acima do peso e bem fora de forma. Coloquei como meta evoluir aos poucos, não importasse o quanto demorasse, tentando ser uma pessoa melhor para mim mesma, tanto nos treinos como na vida do dia a dia e creio que isso me fez voltar a ter resultados melhores.
2) O que, afinal, você tem a melhorar para as próximas jornadas?
Acredito que algumas questões técnicas, principalmente na parte de fundamentos, os quais eu sou meio desatenta as vezes.
3) Para a Dorigon que foi para o Mundial Júnior de 2013, qual foi a evolução?
Me sinto mais madura por ter enfrentado situações difíceis e ter sobrevivido a todas. Pensei em parar de nadar diversas vezes no meio desse caminho, principalmente pela dificuldade em conciliar treinos e faculdade. Mas hoje acredito que a natação é uma parte essencial da minha vida, e por isso me considero uma pessoa mais convicta de minhas paixões.
4) Qual é sua rotina atualmente?
Treino todos os dias (menos domingo) apenas pela manhã, entro no clube as 07:00 e saio por volta de 11:30. A tarde estou na faculdade, aonde tenho aula praticamente a tarde e a noite inteira, até as 21:10. exceto sexta, quando só tenho 2 aulas e é o melhor dia da semana pra mim (risos).
5) Como consegue conciliar a natação com seu curso na UTFPR?
Procuro estar sempre com as datas de provas e trabalhos bem organizadas na minha cabeça e traço um plano conforme elas vão se aproximando. Na maioria das vezes tenho que tirar o atraso aos domingos, mas isso é o de menos. Quando coloco como meta terminar tal coisa em tal dia vou até o fim, para evitar atrasos mais à frente. Isso também me estressa bastante, as vezes chego muito cansada no treino porque estudei muito na noite anterior ou tive muitas aulas. No entanto, sei que essa foi uma escolha que fiz na vida, e também agradeço por ser tudo dessa forma.
6) Nos conte sua história com a natação.
Comecei a nadar com 3 anos, após cair na piscina acidentalmente e minha mãe ter me puxado. Nadei boa parte da infância na escola. Aos 9 anos era diferente dos colegas porque sempre queria fazer mais metros do que todo mundo durante a aula. Ai comecei a perceber que tinha um interesse a mais pelo esporte, quando comecei a participar de competições não federada e me destacar, até o dia que fiquei em terceiro lugar em uma dessas competições e decidi que queria começar a treinar porque não queria perder mais. Ai comecei a competir federada.
7) O que aprendeu com a passagem-relâmpago pelo Corinthians, em 2014?
Muitas coisas, conheci pessoas fantásticas lá e com certeza é um lugar que tenho na memória. O principal que aprendi, creio que foi quando vi as pessoas competindo e me dei conta que para competir bem você precisa estar feliz, de bem consigo mesmo e muito confiante, uma coisa que eu sentia que faltava em mim. Treinava muito e muito bem mas na hora da competição me sentia triste e insegura. Percebi nesse momento que competir é, na minha opinião, totalmente dependente do seu psicológico no momento da prova. Pode ter treinado o quanto quiser, se estiver com uma cabeça ruim, já era.
8 Se você fosse convidada para defender um time no Brasil, qual seria?
Hoje não penso em defender nenhum outro time a não ser o Curitibano. Tenho uma certa paixão por esse Clube que não consigo explicar.
9) E estudar (e nadar) nos EUA passa pela sua cabeça?
Já passou várias vezes, mas hoje não mais, pois já fiz mais da metade do curso de Engenharia Civil e uma mudança agora creio que não valeria apena. No entanto, penso em depois de formada, fazer uma pós, mestrado nos EUA ou na Europa. Sempre tive como objetivo ser bem sucedida academicamente.
10) Por muito pouco a Gabi Roncatto não superou seu recorde dos 100 peito no Chico Piscina de 2014, ele segue lá intocável. Você pensava que ele fosse superado, já que a Gabi venceu tal prova por quatro anos seguidos?
Acreditava que ela tinha grandes chances de bater o recorde sim, admiro muito a Gabi, acho ela uma nadadora excepcional.
11) Qual a sua prova preferida, aliás?
Sempre gostei muito de nadar os 200 medley, desde criança.
12) Prefere treinar ou competir?
Antigamente diria com 100% de certeza que treinar pois não gostava de competir. Hoje digo que gosto muito dos dois, mas treinar ainda está um pouquinho na frente.
13) Alguma inspiração na natação?
Michael Phelps sempre foi meu ídolo. Mas me inspiro muito também na Rebecca Soni e fora da natação, sou fã de Novak Djokovic.
14) O que, afinal, falta para a natação feminina brasileira se igualar às potências, na sua visão, além de investimento?
Sempre gostei de pensar que é uma questão histórica. O eixo Europa-EUA e Austrália sempre tiveram maior tradição na natação. Observasse uma evolução enorme na natação feminina no país, e o surgimento de grandes nomes como a Etiene com certeza vai incentivar crianças a serem melhores. Eu acredito que com o tempo a natação feminina brasileira possa se tornar uma potência internacional.
15) Por fim, deixe seu recado aos leitores do Famila.
À todos os amantes de natação como eu, que continuamos firmes e determinados em buscar dos nossos maiores sonhos!
Nossos agradecimentos à Giovanna pela entrevista! As fotos são de Ale Koizumi, da FAP e de Satiro Sodré. Em breve, tem mais papos legais aqui no Famila. E confira aqui as entrevistas anteriores:
VICTORIA RAYOLGABRIELLE RONCATTO
BRUNA PRIMATI
ALINE SAPORITO
GABRIELA ROCHA
SARA PALMA RIBEIRO
GUILHERME DA COSTA
JHENNIFER ALVES DA CONCEIÇÃO
CAROLINA MUSSI
ALESSANDRA MARCHIORO
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