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sábado, 7 de março de 2015

WHO RUN THE WORLD? (parte 5 - por Patrícia Angélica)

Estamos na quinta parte do especial de Semana da Mulher do FamilAquatica, que é a republicação da série "Who Run The World?", originalmente um TCC assinado por Patrícia Angélica, do site Loucos por Natação, em 2013. Hoje, publicaremos sobre as aposentadorias da natação, com algumas atualizações.

O ano de 2013 começou com a aposentadoria de pelo menos duas atletas de ponta da natação brasileira. A velocista mineira Flávia Delaroli, do Esporte Clube Pinheiros, anunciou sua saída em novembro de 2012, aos 28 anos, pendurando de vez o maiô em dezembro, após o Mundial de Piscina Curta em Istambul, na Turquia. A carioca e especialista no nado borboleta Gabriella Silva, também do Pinheiros, tornou pública a decisão em janeiro, aos 24 anos recém completados, depois de dois anos sem conseguir treinar adequadamente por causa de repetidas lesões e cirurgias. 
Sem contar a gaúcha e também velocista Michelle Lenhardt, do Fluminense, que comunicou o fim de sua carreira em maio deste ano, aos 32 anos. Para a costista de São José dos Campos Fabiola Molina, de 38 anos, 2013 é o ano de transição entre a vida de atleta e empresária, além do desejo de ser mãe. (N. E.: Fabíola, de fato, abandonou as piscinas num evento épico, em São José dos Campos, em Novembro de 2013, e no ano seguinte realizou o sonho de ser mãe, tendo Louise Maria) Isso significa que a geração de melhores resultados da nossa história está deixando as piscinas. Apenas Joanna Maranhão continua na ativa. 
Flávia teve uma despedida emocionante nas piscinas brasileiras no Open de Natação em Guaratinguetá (SP). Ela admite que a decisão foi tomada principalmente por conta de projetos futuros profissionais e pessoais. Mas ao falar da decisão e de como encarou a natação ao longo de seus 24 anos dentro das piscinas, transparecem as dificuldades por que passou ao longo da carreira. "Quando adolescente, tive que decidir entre os estudos e o esporte, entre me sentir bonita e seguir meu sonho, entre o conforto da minha casa e amparo da minha família ou treinar fora do país com apenas 15 anos de idade. Depois tive que enfrentar o desinteresse pelo esporte feminino que vinha de todos os lados e era bem desanimador", contou ela por e-mail. No entanto, Flavia foi uma das nossas melhores atletas dos últimos anos na modalidade. Hoje, Flavia frequenta curso pré-vestibular, mas ainda não tem certeza sobre o que deseja cursar. (N.E.: Ela cursa nutrição e, atualmente, é mãe de Joaquim) Diz que se tivesse prosseguido com os estudos enquanto era atleta, não sabe o ofício que teria escolhido, mas que seria algum que não lhe tomasse muito tempo. E se há alguns anos a estética das nadadoras era vista como masculinizada, para Flávia, com a moda cada vez maior das academias, hoje seu aspecto físico é normal. "Aprendi a valorizar mais, mas certas coisas como braços e peitoral muito grandes e fortes eu jamais gostei. Sabia que nada disso importava, então apesar de algumas coisas incomodarem, não significavam nada perto do objetivo de atleta". 
Gabriella Silva teve que mudar a técnica de nado borboleta após uma cirurgia no ombro em meados de 2009. No final de 2010, ficou de cama por duas semanas devido a a uma lesão na coluna, que também resultou em procedimento cirúrgico. Tudo isso impediu que a melhor atleta do Brasil no estilo mais difícil da natação treinasse adequadamente. Em 2011 foram poucas as competições em que ela apareceu com destaque. Já em 2012, não foi vista em nenhuma. Com tudo isso, Gabriella decidiu dedicar-se aos estudos. Com apenas 24 anos, vai prestar vestibular para Medicina, "influenciada pelos anos em que tentou entender suas lesões", como escreveu Daniel Takata na edição número 11 da revista Swim Channel de março de 2012. Em entrevista ao SporTV após o anúncio de sua aposentadoria tão precoce, emocionada, a ex-atleta declarou: "Nadar é o que eu mais amo fazer na minha vida. E eu nem sei quem eu sou sem ser a natação". Já Fabiola Molina, aos 38 anos, conta que a decisão de parar aos poucos a partir de 2013 foi fruto de um acordo comum entre ela e o marido, também nadador, Diogo Yabe. "Temos nossos objetivos de casal, de família. Quero me dedicar a outras coisas e não poderia ser atleta competitiva 100%. Vou continuar em algumas competições menores pela Associação Esportiva São José, de São José dos Campos (SP)]. Estou estudando fazer um evento para me despedir da natação e trazer uns amigos estrangeiros". (N.E.: o evento aconteceu e uma foto dele ilustra esta matéria) Além dos projetos pessoais, a melhor costista da história do Brasil (N.E.: antes de Etiene Medeiros), campeã brasileira mais de 50 vezes nas provas de 50m e 100m costas, ainda pensa em deixar um legado cultural para o país através de uma exposição que mostre a evolução da natação ao longo do tempo. "Vamos tentar mostrar, por exemplo, a diferença entre quem ganha uma medalha em Mundial e quem fica nas últimas colocações. A diferença é muito pouca. Vamos propor exercícios, como falar uma palavra tão rápido quanto a diferença que a nadadora que ficou em sétimo e a que ganhou, que é algo em torno de 40 centésimos de segundo, dependendo da prova". É uma forma interessante de tentar aproximar o público dos feitos dos grandes atletas e fazê-los entender a dificuldade do esporte de alta performance. 
 Michelle Lenhardt anunciou no Facebook, no dia 13 de maio de 2013, que estava "pendurando o maiô". Depois de um início de ano conturbado, após a dispensa do Esporte Clube Pinheiros e a difícil negociação com outros clubes, ela chegou a competir no Troféu Maria Lenk deste ano pelo Fluminense. A agora ex-atleta de 33 anos é formada em Publicidade pela PUC-RS e promete não se afastar definitivamente das bordas da piscina, pois vai a partir de agora dar assessoria direta para atletas (N.E.: atualmente ela mora em Auburn com o já marido Bruno Fratus, sendo também seu braço direito). Segundo ela, não se sentia mais feliz competindo. "Acredito que estamos na vida para sermos felizes, então pretendo continuar buscando minha felicidade em outros caminhos".

Após a publicação original desta matéria, tivemos mais aposentadorias emocionantes. Em Dezembro de 2013, no Open de Porto Alegre, penduraram o maiô Rebeca Bretanha, por projetos pessoais, Larissa Cieslak, visando uma carreira na engenharia, e Tatiana Lemos Barbosa, hoje treinadora de natação nos Estados Unidos. Em 2014, mais aposentadorias: Beatriz Bullo, que defendia a Unisanta, e agora fará carreira no Direito; e Carolina Mussi e Thalandra Borges, ambas ex-Corinthians, para novas jornadas pessoais. Sem contar que Joanna Maranhão mesma chegou a aposentar-se, mas voltou atrás e o resto é história.
Amanhã, Dia Internacional da Mulher, a serie segue com a nova geração da natação feminina.

(Patrícia Angélica é jornalista, responsável pelos blogs Loucos por Natação e Criminal Minds BR)

sexta-feira, 6 de março de 2015

WHO RUN THE WORLD? (parte 4 - por Patrícia Angélica)


Na quarta parte da série especial em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, Patrícia Angélica faz uma análise da separação entre seleções e a criação de uma equipe especialmente para cuidar das nossas meninas. Lembrando que esta é uma série originalmente publicada no Loucos por Natação, em 2013.

Durante o Troféu José Finkel, em setembro de 2012, na piscina do clube SESI-SP, Fernando Vanzella (N.E.: foto acima tirada por este repórter durante o Torneio Regional de Santos), hoje treinador da equipe, foi convidado pelo presidente da Confederação Brasileira de Desportes Aquáticos (CBDA), Coaracy Nunes, para ser o novo head coach na Seleção Brasileira de Natação Feminina. Poucos meses depois de aceitar o convite, Vanzella aproveitou o Mundial de Piscina Curta em Istambul, em dezembro, como campo de observação para a nova função.
Todavia, apenas designar um treinador para o momento em que as melhores nadadoras do país se juntam em uma Seleção não é o bastante. O que a CBDA está fazendo na prática? O que pensa a comunidade aquática?
A primeira atitude da Confederação a respeito dessa divisão foi pré-classificar todos os revezamentos femininos (4x100m livre, 4x100m medley e 4x200m livre) para a próxima grande competição, o Mundial de Piscina Longa, que acontece em Barcelona (ESP), na última semana de agosto. Antes, apenas os revezamentos (nesse caso, agregado entre os quatro melhores tempos das prova de 100m livre, 100m estilos ou 200m livre) que conseguissem estar entre os 12 melhores tempos do mundo pelo ranking mundial do ano anterior competiam.
Enquanto Ricardo de Moura, supervisor técnico da CBDA, considera a decisão uma forma de levar as atletas a uma experiência internacional, outros, como Alex Pussieldi, pensam o contrário. "Elas não têm nível para isso [competir em plano de igualdade com as potências do esporte]. Ninguém ganha experiência indo para campeonato mundial sem condição de competir em nível mundial. A partir do momento que as coisas começam a ficar mais fáceis, você começa a se acomodar".
Outro que expõe uma visão crítica sobre essa divisão é João Reinaldo, o Nikita, treinador de Joanna Maranhão no Clube Português do Recife (N.E.: atualmente, o treinador de Joanna é André Amendoim, no Pinheiros), que diz apenas ter "ouvido falar de uma divisão" e ainda critica a escolha de um técnico que está dentro de um clube. Fernando Vanzella, além de treinador principal da seleção feminina, exerce a mesma função no clube SESI-SP. "Deveria haver um técnico sem nenhum vínculo e realmente participando, acompanhando o treinamento, viajando entre os estados, vendo não só os que estão no topo, mas aqueles que têm mais chance de chegar lá", disse.
Uma cobrança constante da comunidade aquática é por viagens de treinamento e competição. "Deveriam reunir essas meninas que estão na seleção pra treinar juntas e ter um técnico focado na natação feminina", defende a ex-nadadora e produtora do SporTV Mariana Brochado.
Para criar uma identificação maior entre essas atletas e elevá-las a um patamar de competitividade, é necessário que sejam feitas mais clínicas (como são chamados os training camps realizados pelo CBDA no Brasil), como a realizada entre os dias 18 e 23 de fevereiro de 2013, em Brasília. As atletas que participaram gostaram da experiência, principalmente pela oportunidade de "conviver por algum tempo com atletas de outras faixas etárias e outros clubes". Beatriz Travalon, campeã brasileira dos 100m nado de peito, e uma das mais jovens na seleção, justifica: "Você só sabe das dificuldades que a pessoa tem quando você está no treino. Ver na competição é uma coisa, conviver é diferente".
No entanto, para Fabiola Molina, uma das mais bem sucedidas nadadoras brasileiras (N.E.: aposentou-se em 2013), a clínica acrescentou pouco para as atletas mais experientes. Fabíola, que está em transição entre a carreira esportiva e a de empresária, foi uma das palestrantes. Para ela, faltaram na clínica coisas essenciais em um campo de treinamento, como a filmagem biomecânica para detectar possíveis erros de técnica subaquática do atleta. Além disso, a data escolhida pela CBDA também teria coincidido com viagens de algumas equipes (como a do Minas, que não pôde enviar atletas pois estava na Austrália).
O sentimento é de satisfação entre as atletas beneficiadas pelo novo projeto da Confederação. "O investimento diferenciado que a CBDA está fazendo [na natação feminina] daqui para frente vai só melhorar", comemora Graciele Herrmann. A mesma sensação é compartilhada pela nadadora Etiene Medeiros: "A gente vê o exemplo, não só na natação, mas em outros esportes, como o judô, que dá certo separar o masculino do feminino. Espero que dê certo e que a natação feminina evolua".
Já Arilson Soares toca em outro ponto: o planejamento. O treinador considera fundamental monitorar os treinos, controlar a carga de exercícios das atletas e conhecer os seus picos hormonais para ajustar a carga de treinamento dentro e fora d'água. Para ele, quando se percebe que algo está errado, deve-se abandonar o planejamento e começar tudo do zero. "Se algo não funcionou em três meses, para e tenta outra coisa. Não tem continuidade. Quando algo não funciona, temos que reavaliar e define quais são as competições que vão servir de avaliação. O que importa é o resultado na competição".
Esse parece um receio muito grande de toda a comunidade aquática: a continuidade do projeto. Djan Madruga, medalhista olímpico no revezamento 4x200m livre nos Jogos Olímpicos de Moscou 1980, em bate papo durante o Troféu Maria Lenk, em abril de 2013, acredita que, após 2016, é preciso ver o que deu certo e ver como continuar. Para o ex-atleta e hoje diretor executivo da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), uma brasileira pode ganhar medalha nos Jogos Olímpicos, mas isso não garante a melhora estrutural da modalidade: "Não é impossível uma menina conseguir medalha olímpica, mas isso não quer dizer que tenha havido uma melhora geral da natação feminina ou que isso reflita a realidade da natação brasileira".
Ricardo de Moura explica, em entrevista concedida na mesma competição, que a melhor forma de avaliar o processo é através do ranking mundial, em que os nadadores e nadadoras são posicionados de acordo com os tempos que fazem em suas respectivas provas. "Se o atleta estiver entre os dez primeiros do mundo no ano que antecede os Jogos Olímpicos, há 80% de chance de ganhar medalha". A meta é ambiciosa. E para atingir essa performance, a meta é colocar mais atletas entre as 150 melhores até o final de 2013.
A natação é um esporte em que provas masculinas e femininas ocorrem todas juntas durante as competições, e, da mesma forma, os atletas de ambos os sexos ficam hospedados no mesmo hotel. Atletas costumam namorar entre si, sejam do mesmo clube ou de clubes diferentes. De acordo com a nadadora Joanna Maranhão, não existem restrições à prática sexual relacionadas à concentração, como em outros esportes, o futebol, por exemplo. "O que influencia é sua mente e de um modo geral atletas de esporte individual não têm essa postura porque pensam muito em si", justifica Joanna. Assim, as relações sexuais acontecem nos locais de hospedagem, principalmente no fim dos eventos, mas os treinadores não ficam nada contentes quando descobrem as aventuras de seus atletas. 
O treinador Alberto Silva é hoje o responsável pelos nadadores na Seleção Brasileira (N.E.: ele não o é mais desde o final de 2014 e atualmente é head coach no Paineiras do Morumby), mas foi head coach do Esporte Clube Pinheiros durante sete anos e lidava com as meninas. Em conversa por Skype, o técnico detecta o principal problema com relação à prática sexual antes das competições: "lidamos muitas vezes com menores de idade e precisamos manter a disciplina e a ordem. Além disso os pais confiam seus filhos aos técnicos e não podemos decepcioná-los". Albertinho – como é conhecido na natação – garante que nunca flagrou ninguém desobedecendo, mas admite que, se pegasse, não saberia o que fazer. Diz apenas que o problema seria resolvido internamente no clube e na equipe, sem expor os atletas envolvidos.

Amanhã, a quinta parte, falando sobre aposentadorias, com algumas atualizações.

(Patrícia Angélica é jornalista, responsável pelos blogs Loucos por Natação e Criminal Minds BR)

quarta-feira, 4 de março de 2015

WHO RUN THE WORLD?: Especial Semana da Mulher

A natação feminina, não é segredo para ninguém, tem crescido muito nos últimos anos. Quem não se lembra do protesto que as nadadoras fizeram naquele Troféu Brasil de 1996, em Belo Horizonte, quando entraram com camisetas onde se lia: "poucos centésimos afogaram nosso sonho". Hoje, não existem mais centésimos para afogar o sonho de nenhuma delas.
Temos uma recordista mundial nos 50 costas (Etiene Medeiros), tivemos meninas a poucos passos do pódio em Mundiais (a própria Etiene, Alessandra Marchioro e Natalia de Luccas) e a tendência é melhorar. A separação entre seleções, implantada recentemente pela CBDA, tem tido efeito positivo pelas nossas nadadoras.
Mas é preciso ainda que muitas mudanças sejam feitas e que nossas nadadoras parem de ser vistas como "gostosas", ou algo parecido. Temos de ver nossas atletas pelos resultados, não pela beleza, que, convenhamos, não dá para dizer que elas não tem.
Nisso, nesta Semana Internacional da Mulher, vamos republicar o Trabalho de Conclusão de Curso da nossa amiga, a jornalista Patrícia Angélica (do blog Loucos por Natação), falando justamente sobre a história, a evolução e algumas das grandes nadadoras que marcaram o país, com algumas atualizações deste repórter.
A partir de amanhã, portanto, e até o dia 16 de Março, vamos publicar capítulos que contam como foi a evolução feminina nas águas. Aguardem e confiem. E a nossa homenagem para elas, que muito fizeram por todos nós.

(com agradecimentos à Patrícia Angélica - foto da CBDA)